MUDANÇAS CLIMÁTICAS E GÊNERO: DESLOCAMENTOS A PARTIR DA II MARCHA DAS MULHERES INDÍGENAS
DOI:
https://doi.org/10.25247/2447-861X.2024.n261.p178-200Palavras-chave:
Mudanças climáticas, Gênero, Mulheres indígenas, Governança climática, Ecologia política feministaResumo
Neste artigo, narramos elementos de nossa participação na II Marcha das Mulheres Indígenas, realizada em Brasília em 2021, como parte de uma pesquisa que investiga as interseções entre mudanças climáticas e gênero. A partir de uma perspectiva feminista interseccional, buscamos refletir sobre o papel das mulheres indígenas na governança climática e questionar as abordagens tecnocientíficas e neoliberais predominantes nos espaços institucionais. Utilizamos como base metodológica a etnografia e a ecologia política feminista, incorporando o conceito de "fronteira" de Glória Anzaldúa para refletir sobre o nosso posicionamento enquanto pesquisadoras não indígenas que adentram um espaço construído por e para mulheres originárias. Ao discutir os aspectos institucionais da governança climática transnacional, articulamos o conceito de “Ecogovernamentalidade Climática” de Astrid Ulloa e realizamos um debate epistemológico e ontológico para apresentar outras formas de interação com a natureza, que contrastam com a racionalidade tecnocientífica ocidental dominante nas políticas climáticas. Também abordamos as interseções entre gênero e mudanças climáticas, analisando o papel dos movimentos de mulheres indígenas e seus aportes críticos e Finalmente, oferecemos um relato etnográfico da nossa participação na II Marcha das Mulheres Indígenas, utilizando inspirações da etnografia para discutir os deslocamentos que essa experiência provocou em nosso processo de pesquisa. O encontro com as mulheres indígenas nos levou a repensar as estruturas institucionais e epistemológicas que orientam o debate climático, abrindo caminhos para novas formas de resistência e ação política, baseadas nas relações de cuidado com a Terra e nas alianças entre diferentes saberes.
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