BAIRROS NEGROS: FORMAS DE MORAR, FORMAS DE ALUGAR
DOI:
https://doi.org/10.25247/2447-861X.2023.n260.p366-397Palavras-chave:
Bairros negros, Diáspora interna permanente., Forma Urbana Negra, Afrodescendência, Forma de morarResumo
Este texto é um fragmento de uma dissertação de mestrado defendida em 2023 no Programa de Pós-graduação em Educação. Envereda pelos caminhos da afrodescendência, do patrimônio cultural negro, das formas de morar e de alugar moradias na Comunidade Rosalina, um bairro negro que surgiu no início da década de 1990, no bairro Parque dois irmãos, na cidade de Fortaleza-CE. O “fenômeno” de seu surgimento pode ser explicado pelo déficit imobiliário causado pela especulação ao longo da citada década. As políticas capitalistas e racistas deste período sublinham às populações negras da cidade de Fortaleza a ocupação de terrenos como única possibilidade de conquista da moradia. Neste sentido, ocupa-se um território que nele será impresso uma forma de morar. Para esta população, a moradia é mais que um lugar em que a vida privada acontece, é um patrimônio. O patrimônio cultural negro abrange aspectos materiais e imateriais que são carregados de valores atribuídos pela própria população afrodescendente à sua memória, história e cultura. O objetivo foi compreender a forma de alugar e a forma de morar existente no bairro, destacando elementos da história e da cultura negra, as formas de vida, organização e sociabilidades no cotidiano. Como resultado, fica evidente as dinâmicas sociais e experiências cotidianas dentro de um contexto marcado pelo racismo antinegro e pela segregação espacial e social e que as formas de morar e de alugar na Rosalina apresentam aspectos que tornam a experiência afrodescendente específica, de modo que o morar e o alugar é um ato coletivo.
Referências
ALENCASTRO, Luiz Felipe de. O trato dos viventes: formação do Brasil no Atlântico Sul. Companhia das letras, 2000.
ANJOS, Rafael Sanzio Araújo dos. Geografia, cartografia e o Brasil africano: algumas representações. Revista do Departamento de Geografia, v. esp., p. 332-335, 2014.
ANJOS, Rafael Sanzio Araújo dos. Territórios étnicos: espaço dos quilombos no Brasil. In: SANTOS, Renato Emerson dos (org.). Diversidade, espaço e relações étnico-raciais: O negro na Geografia do Brasil. 2. ed. Belo Horizonte: Editora Gutenberg, 2009. 203 p. (Coleção Cultura Negra e Identidade).
BARBOSA, Ana Larisse Santos; DAVIES, Frank Andrew; SANTOS, Guilherme Marcondes dos. Bairro negro, quilombo urbano: reflexões sobre a formação das cidades a partir do Conjunto Jardim União, Fortaleza. Ponto Urbe. Revista do núcleo de antropologia urbana da USP, n. 30 v. 2, 2022.
CROCE, Marcus Antônio. A economia do Brasil no século XIX. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA ECONÔMICA. 2015.
CUNHA Jr., Henrique. Africanidades, Afrodescendência e Educação. Revista Educação em Debate, Ano 23, V. 2 - nº. 42, Fortaleza: FACED/UFC, 2001. p. 05-15.
CUNHA Jr., Henrique. Espaço Urbano e Afrodescendência. In: CUNHA Jr., Henrique e RAMOS Maria Estela Rocha. (org.) Espaço Urbano e afrodescendência: Estudo da espacialidade negra urbana para o debate das políticas públicas. Fortaleza: UFC Edições, 2007.
CUNHA Jr., Henrique. Bairros negros e cidades negras: conceitos necessários para a inclusão das populações negras nas histórias da cidades brasileiras. Revista Campo da História, v. 8, n. 1, p. 273-286, 2023.
CUNHA JUNIOR, Henrique. Bairros Negros e Cidades Negras: conceitos necessários para a inclusão das populações negras nas Histórias das cidades brasileiras. Revista Campo da História, v. 8, p. 273-286, 2023.
DAMIÃO, Flávia de Jesus. Primeira infância, afrodescendência e educação no Arraial do Retiro. 2007. 146f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Educação, Programa de Pós-graduação em Educação Brasileira, Fortaleza-CE, 2007.
DIOP, Cheikh Anta. Los tres pilares de la identidad cultural. In: El correo de la Unesco: Una ventana abierta al mundo. París: UNESCO, nº 35: 58. 1982.
FORTALEZA. Urbanismo e Meio Ambiente: cartografias. 2020. Disponível online em: https://urbanismoemeioambiente.fortaleza.ce.gov.br/infocidade/498-cartografias acesso em: 19 maio 2021.
FORTALEZA. Secretaria Municipal de Desenvolvimento Habitacional de Fortaleza - HABITAFOR, 2008. Disponível online em: https://habitacao.fortaleza.ce.gov.br/ Acesso em: 18 maio 2022.
GLISSANT, Edouard. Introdução a uma poética da diversidade. Juiz de Fora (MG): UFJF, 2005.
JUCÁ, Gisafran Nazareno Mota. Fortaleza na visão dos idosos: onde o público e o privado se entrecruzam. O Público e o Privado, Fortaleza, v. 1, p. 7-21, 2002.
KILSZTAJNA, Samuel et al. Aluguel e rendimento domiciliar no Brasil. Rev. econ. contemp. [online]. 2009, vol.13, n.1, p.113-134. ISSN 1980-5527.
LUZ, Narcimária Correia do Patrocínio. Descolonização e Educação. Editora CRV. 2013. página 28.
LUZ, Narcimária Correia do Patrocínio. Abebe: a criação de novos valores na educação. Salvador. Edições SECNEB, 2000.
MAGALHÃES, A. et al. O mercado imobiliário de aluguéis em favelas do Rio de Janeiro: informalidades ou outras formas de formalidade. ENCONTROS NACIONAIS DA ANPUR. Anais. Disponível em: http://unuhospedagem.com.br/revista/rbeur/index.php/anais/article/view/4529, 2013.
MACHADO, B. A. Segregação Socioespacial: A Influência da Questão Étnico-Racial na Configuração das Cidades. In: Jornada Internacional de Políticas Públicas, 11, 2023, São Luis MA. Reificação Capitalista e Emancipação Humana como Necessidade Histórica: Formação da Consciência de Classe na luta de hegemonias. São Luís MA: UFMA, 2023. v. XI. p. 1-16.
MATIAS, Emanuela Ferreira. Deus Criou o Mundo e Nós Construímos o Conjunto Palmeiras: Quilombismo Urbano de Populações Afrodescendentes em Fortaleza- Ceará. 2019. 127f. - Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Ceará, Programa de Pós-graduação em Educação, Fortaleza(CE), 2019.
MIAGUSKO, Edson. Mutirão autogestionário e o contexto da experiência democrática revisitado. Caderno CRH, v. 24, p. 167-181, 2011.
MOURA, Clóvis. Rebeliões da Senzala: quilombos, insurreições, guerrilhas. 5ª ed. São Paulo: Anita Garibald / Fundação Maurício Grabois, 2014.
MUNANGA, Kabengele; Território e territorialidade como fatores constitutivos das identidades comunitárias no Brasil: caso das comunidades quilombolas. In: NOGUEIRA, João Carlos; NASCIMENTO, Tânia Tomázia do (org.). Patrimônio Cultural: Territórios e identidades. Florianópolis: Atilènde, 2012, p. 15-21.
SILVA, Keilla Ingrid; NETO, João da Cruz Gonçalves. A formação da propriedade fundiária no Brasil: a lei de terras de 1850. THEMIS: Revista da Esmec, v. 17, n. 2, p. 173-195, 2019.
OMETTO, Ana Maria H.; FURTUOSO, Maria Cristina O.; SILVA, Marina Vieira da. Economia brasileira na década de oitenta e seus reflexos nas condições de vida da população. Revista de Saúde Pública, v. 29, p. 403-414, 1995.
PARENTE, Karlos Markes Nunes. Espaços Públicos e Privados de lazer e turismo na orla oeste de Fortaleza: Embates políticos e contradições socioespaciais. 2012. Dissertação [Mestrado] - Universidade Estadual do Ceará, Programa de Pós-graduação em Geografia, Fortaleza(CE), 2012.
QUEIROZ, E. G. ; CUNHA JUNIOR, H. . Terreiro de Candomblé en el barrio de Jabaquara en la ciudad de São Paulo - La dificultad de imprimir la marca africana en la ciudad. V. I, p. 1-300, 2022.
QUEIROZ, Eunice Gonçalves Queiroz. Orixás - Introdução Explicativa sobre Design, Arquitetura e Urbanismo e Artes no Terreiro Axé Ilê Obá em São Paulo - Capital. 2023. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) - Universidade Federal da Bahia, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.
QUERINO, Manuel. O colono preto como fator da civilização brasileira. CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA, 6º, 1918, Rio de Janeiro. Anais [...]. Rio de Janeiro, 1918.
RAMOS, Maria Estela Rocha. Bairros negros: Uma lacuna nos estudos urbanísticos - Um estudo empírico-conceitual no bairro do Engenho Velho da Federação, Salvador (Bahia). Tese (Doutorado), Universidade Federal da Bahia, Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Salvador, 2013.
ROLNIK, Raquel. Moradia é mais que um objeto físico de quatro paredes. São Paulo. (Entrevista). Revista E-metropolis, nº 05, ano 2, junho de 2011.
SANTOS, Milton. O Dinheiro e o Território. GEOgraphia, 1(1), pp. 7-13, 1999 https://doi.org/10.22409/GEOgraphia1999.v1i1.a13360.
SILVA, Renata Aquino da. Afroinscrições em Petrópolis: história, memória e territorialidades. Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Ceará, Programa de Pós-graduação em Educação, Fortaleza (CE), 2018. 155f.
SOUZA, Tiago; CUNHA JUNIOR, H. Comunidade Rosalina: um território de maioria afrodescendente na cidade de Fortaleza - CE. In: CUNHA JUNIOR, Henrique; BIÉ, Estanislau Ferreira; et al (org.). Bairros negros cidades negras. 1ed. Fortaleza: Via Dourada, 2019, v. 1, p. 137-166.
SODRÉ, Muniz. O terreiro e a cidade: a forma social negro-brasileira. Mauad Editora Ltda, 2019.
SOBRINHO, José Hilário Ferreira. “Catirina, minha nêga, tão querendo te vendê…”: escravidão, tráfico e negócios no Ceará do século XIX (1850-1881). Fortaleza: SECULT/CE, 2011, v. 1, 332p.
SOMMER, Michelle Farias. Territorialidade negra urbana: a morfologia sócio-espacial dos núcleos negros urbanos segundo a herança histórica comum. Dissertação (Mestrado) em Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 2005. 224f.
SOUZA, Juliana; CUNHA JUNIOR, H. A inscrição de um território negro urbano: introdução a uma pesquisa em Carapicuíba - SP. Revista África e Africanidades, v. 12, p. 01-14, 2011.
UEMURA, M. M.; KOHARA, L.; FERRO, M. C. T. Projeto Moradia é Central - lutas, desafios e estratégias. São Paulo: Centro Gaspar Garcia, 2012 (Material para Formação de Movimentos de Moradia). Instituto Polis.
VIDEIRA, Piedade Lino. Marabaixo, Dança Afrodescendente: Significando a Identidade Étnica do Negro Amapaense. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Federal do Ceará, 2005.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2023 Tiago Souza de Jesus, Henrique Cunha Junior
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
- Autores mantém os direitos autorais e concedem à Cadernos do CEAS: Revista Crítica de Humanidades o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta Revista.
- Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), desde que reconheça e indique a autoria e a publicação inicial nesta Revista.
- Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer momento depois da conclusão de todo processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).