A PRINCESA, O BICHO E O DEMÔNIO NEGRO: RAZÃO E COLONIALIDADE NO “PROGRESSO” PARA FEIRA DE SANTANA

Autores

  • Diego Carvalho Corrêa Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA)
  • Valter Zaqueu Santos da Silva Universidade Federal da Bahia (UFBA)

DOI:

https://doi.org/10.25247/2447-861X.2023.n259.p334-365

Palavras-chave:

lucas da feira, capelão, Progresso, Totalidade Homogeneizante, Desafricanização, Colonialidade

Resumo

Neste artigo examinados como ideais, práticas, ações políticas, saberes, violências, dentre outros, foram movimentados por sujeitos em Feira de Santana, constituindo contraposições entre modos de ver e viver negros e os modelos eurocêntricos e estadunidense no esforço de consolidação do “progresso” culminando na planificação totalizante e homogeneizante da cidade após o golpe civil/militar de 1964, com destaque para o governo do prefeito João Durval Carneiro (1967-1971). Empregamos o romance “O bicho que chegou a Feira” de Muniz Sodré para, através do imaginário narrado pelo autor, compreender conflitos sobre os projetos de cidade que estavam em disputa. Para a apreciação da História e Literatura, escrutinamos o romance por meio de amplo acervo de pesquisas de História de Feira de Santana a fim de identificar similaridades. Operacionalizamos alguns conceitos como branquitude, colonialidade, racismo estrutural, poder simbólico, dispositivo racial e outros, para problematizar e interpretar os longos processos de luta pela desafricanização da cidade acionado no constante conflito pelo controle do imaginário sobre Lucas da Feira e a negritude. Ao fim, concluímos e corroboramos que Muniz Sodré interpretou alegoricamente acontecimentos factuais compreendendo que Lucas era o mal negro a ser mitigado em oposição ao progresso, ciência, civilização e outros, representado por um Capelão Militar, O Bicho, com ações repressoras vinculado ao regime civil/militar e a antigos profissionais políticos conservadores, velhos mandões. 

Biografia do Autor

Diego Carvalho Corrêa, Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA)

Professor Mestre em história social pela UEFS, atualmente atua no Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia da Bahia, campus Barreiras.

Valter Zaqueu Santos da Silva, Universidade Federal da Bahia (UFBA)

Possui graduação em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana (2012) e mestrado em História pela Universidade Federal de Alagoas (2015). Doutorando em História no Programa de Pós-graduação em História - UFBA. Membro pesquisador do NEABI-UEFS, onde desenvolve pesquisas sobre Colonialidade, Racismo, Cidades, urbanização, território e movimentos sociais. Membro do conselho editorial de A-pala Revista de História.

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Publicado

2023-11-29

Como Citar

Corrêa, D. C., & Silva, V. Z. S. da. (2023). A PRINCESA, O BICHO E O DEMÔNIO NEGRO: RAZÃO E COLONIALIDADE NO “PROGRESSO” PARA FEIRA DE SANTANA. Cadernos Do CEAS: Revista crítica De Humanidades, 48(259), 334–365. https://doi.org/10.25247/2447-861X.2023.n259.p334-365

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