ASSISTENCIALISMO DE CRISE NAS PERIFERIAS: REPRODUÇÃO SOCIAL CRÍTICA, MÚLTIPLAS INSTITUCIONALIDADES E PRAGMÁTICA VITALISTA NA URBANIZAÇÃO PERIFÉRICA
DOI:
https://doi.org/10.25247/2447-861X.2023.n260.p430-462Palavras-chave:
Periferias, Reprodução Social Crítica, Vida Cotidiana, Crise UrbanaResumo
A partir de uma investigação etnográfica, o texto refletirá sobre as formas de assistencialismo que se desenrolam num território de urbanização periférica. Pretende-se compreender essas práticas a partir do momento contemporâneo marcado por uma crise, analisando, dessa maneira, as formas de reprodução social crítica e as estratégias encontradas pelos sujeitos periféricos para sobreviverem num cenário de adversidade. Chama-se atenção para as múltiplas institucionalidades que formam uma complexa trama que garante a reprodução de grupos periféricos e para a adesão dos sujeitos periféricos orientados pela pragmática vitalista. A partir da descrição da atuação dessas institucionalidades, observa-se a constituição de um modo de gestão da pobreza. Argumenta-se que essa gestão administrativa funciona como um dispositivo de disciplinamento que incide sobre os corpos dos sujeitos periféricos, impondo a espera e a fila como condição de acessar os recursos necessários para a própria reprodução. As iniciativas de assistência podem, dessa maneira, ser descritas como instrumentos que complementam a gestão da precariedade e funcionam como um dispositivo de disciplinamento que incide sobre os corpos dos sujeitos periféricos, impondo a espera e a fila como condição de acessar os recursos necessários para a própria reprodução.
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