v. 49, n. 263, 2024: DOSSIÊ DEMOCRACIAS AMEAÇADAS E POLÍTICAS DE INIMIZADE: ENTRE A LEGITIMIDADE SOCIAL E O RECHAÇO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS

2024-05-24

Organizadoras: Márcia Esteves de Calazans e Luciana Noelia Ginga

Propõe reunir uma leitura contra-hegemônica, racializando, generificando mobilidades, resistências e subjetividades urbanas, levando em conta classe social, modelos econômicos e as transformações políticas de governança na América Latina, sob as lentes de análises das formas que assumem a hostilidade e a inimizade nas políticas contemporâneas. O avanço da extrema direita, do capitalismo predatório coloca a América Latina em um geoespaço politico-social e econômico no centro de disputas e do recrudescimento dos nacionalismos xenófobos, os racismos de Estado, o rompimento de uma vida coletiva e a suspensão dos direitos civis.

Em que pese esse cenário  aparece acompanhando, do questionamento do modelo civilizacional que está em vias de consolidar- se em um tempo de multiplicação das clausuras, das guerras, das fronteiras e do desejo de apartheid. Modelo que se baseia amplamente no discurso das razões de (in)segurança e na instauração de um estado de exceção em escala mundial, apoiado em uma “necropolítica”. E, por outro lado as fragilidades das alternativas sistêmicas para as saídas do labirinto capitalista tem encontrado a perspectiva do decrescimento, o pós-extrativismo latinoamericano e mobilizações antineoliberais no ecofeminismo, no anticolonialismo e na desglobalização marcados pelos povos originários latinoamericanos.

Coloca-se, então, diretamente a questão do neoliberalismo e um de seus aspectos menos visíveis: os problemas específicos de governo, através da implantação de dispositivos de violências repressiva - práticas estatais e paraestatais - e coercitivas contra setores específicos da população e contra indivíduos em países latinoamericanos. Embora seja frequentemente relacionado e apresentado ao neoliberalismo como aquelas práticas que se distanciam das intervenções estatais repressivas e coercitivas estaduais, como uma espécie de 'governo à distância' ou soft power na América Latina, que durante décadas, foi utilizado como forma de governo, práticas repressivas, coercitivas e cruéis.

O neoliberalismo, o bem-viver e a democracia vem enfrentando-se desde o século passado. Em que medidada o neoliberalismo precisa de democracia? Observa-se que a perspectiva   da   regulação   neoliberal   implica   na   despolitização   dos   processos,  dos modos de vida,  na organização do consenso e na fragilização dos espaços institucionais. Desde esse ponto de partida, analisar como o modo de governança, em suas similaridades, no continente latino-americano tem impactado o projeto coletivo de sociedade, impõe uma perspectiva mais ampla, em um quadro mundial de uma crise do modelo de democracia liberal e o avanço da extrema direita. Compreender  as  movimentações  e  mutações  do  neoliberalismo  e  posiciona-lo  dentro  de campos sociais torna-se impositivo abrirmos o debate em torno das ameaças de curto, médio e longo prazo, sobre suas reconfigurações e impactos sobre a América Latina .

 Nesse âmbito observa-se: o esgotamento do pacto corporativo que legitimou o poder político  do  Estado  desenvolvimentista;  a  emergência  de  novos  atores  sociais  que  expressam  suas demandas  fora  do  pacto  corporativo  prevalecente;  e  a  incapacidade  de  respostas  às  demandas políticas e sociais por parte de um Estado cada vez mais atrelado à uma legitimidade conferida pelo mercado. Nesse sentido, o dossiê proposto acolherá artigos que busquem  discutir as tensões das sociedades latinoamericanas no século XXI, o estado de (in)segurança. Sobretudo os mecanismos políticos e discursivos que recriam, apoiados nas diferenças, os inimigos a serem neutralizados.

Luciana Noelia Ginga: Cientista Política, Docente en Universidad Nacional de Rosario. Co-coordinadora del Centro de Investigaciones sobre "Gubernamentalidad y Estado" en la Facultad de Ciencia Política y Relaciones Internacionales de la Universidad Nacional de Rosario.  Integrante GT CLACSO Violencias, gobiernos y democracias. https://pegues-cige.unr.edu.ar/index.html |ORCID:  https://orcid.org/0000-0002-8548-7000 

Márcia Esteves de Calazans: Psicóloga Social, Mestra em Psicologia Social e Institucional UFRGS. Doutora em Sociologia UFRGS. Pós doutora em Democracia, Violência e Segurança Cidadã USP/UFRGS. Docente na graduação em Psicologia  e no PPG em Educação na Universidade Luterana do Brasil. Colaboradora no Seminário Estudos Culturais desde a América Latina. Integrante GT CLACSO Violencias, gobiernos y democracias. CLATTES  http://lattes.cnpq.br/3033771649742154 | ORCID https://orcid.org/0000-0002-8591-1828

Submissões até 30/09/2024. | Acesse: Diretrizes para autores e submissões.